terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Um Cigarro


"Talvez...talvez não era pra ser. (Ela acende um cigarro e dá uma longa tragada em silêncio) Talvez não fosse meu lugar. Talvez fosse só um sonho, como diria meu pai. Não sei.

Penso que sou uma daquelas pessoas com potencial que nunca conseguem sair da cidadezinha do interior, sabe? Que cresce, casa com o namorado do colégio, engravida e fica na mesma cidadezinha pro resto da vida. Aquelas mulheres que sabem inglês, são muito inteligentes, mas foram obrigadas a ficar na mesma cidadezinha que não oferece nada pra elas. Tirando leite da vaca, cuidando do marido e das crianças... (Longa tragada)

Zeus é um sádico. Quanto mais eu tento, mais longe eu fico da minha meta. É como se ele sentisse um prazer danado em dar o doce pra criança e depois tirar. E aí depois botar na boca, mascar e cuspir de volta na cara da criança. (Bate as cinzas, que estão quase caindo)

Às vezes eu acho que nunca vou ser o suficiente. Eu sou sempre boa, mas não "tão boa a ponto de..." que seja. Sou boa companhia, mas não tão boa a ponto de ser namorada. Sou boa artista, mas não tão boa a ponto de me destacar. Sou boa amiga, mas não tão boa a ponto de ser a melhor. Sou boa filha, mas não tão boa a ponto de ser a preferida. Sou boa, não sou ótima. Sou medíocre. (Longa tragada)

Sempre tive vergonha de admitir isso, mas quando eu era criança eu achava que estava destinada pra algo enorme. Eu achei que tinha nascido pra ser uma voz ouvida por todos. Eu não queria mudar o mundo, nem nada, mas achava que seria grande. Que seria um nome de peso. Famosa, if you will.

Eu tinha esse devaneio recorrente de que um dia eu ia voltar pra minha escola numa reunião de vinte anos de formados e todos aqueles que pisaram em mim a vida inteira chorariam de inveja e seriam velhos, gordos e carecas e com empregos horríveis e deprimentes. (Apaga o cigarro) Acho que no fim vai ser o contrário, né?"

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