quarta-feira, 7 de julho de 2010

It's a small world after all

Quando se mede 1 metro e 52 centímetros é preciso de um banquinho pra alcançar o resto da vida. 1,52 são exatamente 7 centímetros acima da "linha de corte" de pessoas com nanismo.
É muito difícil ser a mais alta da classe na quarta série, mas quando você passa pra quinta série vê que seus amigos ficaram mais altos que você. E aí começam os apelidos. "Anão", "little" e "pigmeu" são apenas alguns dos que eu adquiri ao longo da minha curta existência, sem contar com as imitações, em que as pessoas ficam de joelhos para me imitar.
Não estou reclamando de ser baixinha não, de jeito nenhum. Adoro ser baixinha! Me dá personalidade e caráter. Fora algumas humilhações no volei e no basquete, impossibilidade de pegar aquele livro na última prateleira ou não ter a altura para andar em algum brinquedo no parque de diversões, nunca me faltou nada. Venho de uma longa linhagem de anões e minha avó, a anã-mor, sempre me diz "Minha altura nunca influenciou minha vida, sempre tive os homens que quis e casei três vezes."
Minha altura sempre foi uma parte muito grande de quem eu sou e me fascina eu ser menor do que outras pessoas. Uma das minhas grandes paixões é procurar coisas em "miniatura" para criar "meu mundo". Tenho livros em miniatura, baralho em miniatura e fiquei muito feliz que a Coca-Cola decidiu fazer uma Coquinha do meu tamanho. Eu adoro quando as coisas são proporcionais.

Sabe, eu tenho essa obsessão por coisas proporcionais e corretas. Desde pequena eu sou alucinada com organização. Não organização propriamente dita, mas cada coisa com seu grupo. Meu quarto pode estar a maior zona, tudo jogado no chão, mas camiseta vai estar junto com camiseta, calça com calça, lixo com lixo, filme com filme. Sim, quando eu tenho tempo fico muito feliz em arrumar tudo. Me dá um alívio ver tudo certo.
Na minha infância eu tinha um set com 16 copos de brinquedo que cabiam um dentro do outro. Cada copo tinha um bicho estampado atrás e tinham 4 cores diferentes. Eu passava horas e horas arrumando eles por cor, tamanho, bicho, nome (claro que eu dava nomes), sexo, tudo o que você podia imaginar. Nossa, como eu me divertia.
De noite, eu arrumava meus bichos de pelúcia embaixo do lençol (se não eles sentiam frio) e os separava por grupos: os grandes, médios, pequenos e recém-nascidos.
Poderia ficar contando mais um milhão de manias loucas de organização que tinha quando criança, mas vou passar para frente.

Mesmo com o tempo, minha mania não melhorou. Aliás, só piorou. Eu tenho até aflição quando vejo algo fora do lugar, quero saír de perto. No meu prato, cada comida fica no seu canto. No meu estojo, caneta fica de um lado e lápis de outro. É uma mania terrível.
Porém, quando eu redescobri (já conhecia, mas passei a dar mais valor) as matryoshkas fiquei encantada. Era tudo o que eu gostava junto! Mulherzinhas russas (não que eu goste especialmente de mulherzinhas russas, mas são interessantes), pequenas, que são proporcionais e cabem uma dentro da outra! E se eu tivesse que usar uma metáfora para a minha vida seria "Eu sou a menorzinha das matryoshkas."

Esse discurso longo não é para fazer sentido, acho que não deve fazer mesmo. Deixo o espaço em branco para aquele que conseguir tirar uma conclusão disso tudo e talvez surgir com uma metáfora melhor para a minha vida.

Um comentário:

  1. Essas bonecas russas são realmente um luxo. Tinha uma que gostava muito, acabei dando a uma amiga. A menorzinha delas é a mais fofa, uma gracinha; assim como eu imagino que você seja, não só pela estatura. O nome em russo significa algo como 'mãe prolífica', e faz todo sentido; em relação a você, inclusive, eis que é bastante prolífica escrevendo ótimos textos aqui.

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